quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Á espera do fim.



Em um dia mais obscuro que qualquer noite de lua cheia. Cercado de criaturas sujas e sem essência, já clamo pelo paraíso. Lobos uivam, abutres observam e aguardam por migalhas dos meus restos. Há lama e sangue por todos os lados. Os tiros não cessam a alvejar meus honrosos companheiros, mas eu ainda não deixei de habitar esse corpo, embora seja de minha extrema vontade. O meu fim está chegando e com ele a lucidez que noutros dias me faltava, neste momento sei da verdade. Neste campo de batalha não existem judeus ou católicos, negros ou brancos, ricos ou pobres, jovens ou velhos, somos apenas loucos. Animais inocentes que agem por extinto, controlados e direcionados a cumprir missões em prol dos interesses de gente que nem ao menos conhece pessoalmente. A realidade devora meu otimismo e faz questão de cuspi-lo na minha cara enquanto as moscas começam depositar larvas. Minha esperança sumiu em meio a cada devaneio presenciado. Inferno real a onde atos de insanidade e perversidade são glorificados e recompensados com caras medalhas de ouro que na verdade não pagam o preço necessário por uma consciência límpida. Posso sentir que a reação de meus familiares será hostil e em vão. Meu filho provavelmente irá se deixar levar pelo sentimento de vingança e se transformará em vulcão prestes a explodir a qualquer momento, não o culpo, o mesmo aconteceu comigo. O arrependimento se multiplica dentro de mim, tarde demais. Sim, já consigo pressentir o auge de minha vida medíocre recepcionando outras pobres almas e as acalmando. Nada abaixo da linha de cintura consigo mexer, a dor insistente me força a suplicar por uma morte rápida e digna, se é que há dignidade neste ambiente. Coração valente e teimoso que continua a bombear sangue numa tentativa desesperada de me reerguer. Se possível rastejaria por morfina, mas já não é mais necessário. Adeus.

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